hoje, quando comecei a ler um pouco
sobre umbigo, estava a me perguntar qual
foi a ultima vez que olhei ou mexi no meu próprio... você costuma olhar muito para o seu?
quando eu era criança, lembro que enfiava o dedo no meu próprio umbigo
e sentia uma espécie de fisgada na minha uretra, como uma corrente que seguia até a ponta do meu pinto, eu compartilhava sobre essa
sensação com os meus amigos e eles diziam que sentiam o mesmo, mas vai saber né.
outra coisa me veio agora na
cabeça, uma questão sobre como seria
a parte inversa do umbigo, já
que por fora temos a barriga,
como é por dentro? se o umbigo é uma cicatriz, da parte pela qual passava o
cordão umbilical que leva oxigênio e nutrientes e sei lá mais o que para o bebê, depois de cortado e
cicatrizado por fora, como
que fica lá dentro? antes eu imaginava o cordão
como um tubo diretamente ligado ao estômago da criança, atravessado por comida mastigada da mãe o tempo
todo... muitas questões que claro, posso facilmente encontrar a resposta na
internet, mas sinto um pouco de
preguiça agora somada a uma vontade de continuar imaginando possíveis formas de
como acontece. assim dou mais corda pra
ignorância ser pretexto ao devaneio.
a mesma página que eu li a
respeito da importância vital do umbigo fala sobre o seu “estímulo visual erótico”, e isso é ao mesmo tempo
coerente e impressionante. a
exposição do umbigo está para o desnudamento, um mostrar-se no entendimento de que “(...) o lugar mais erótico do corpo é onde o vestuário se entreabre (...) a encenação de um
aparecimento-desaparecimento”.
o umbigo cicatriz de uma
interdição, da mãe para a criança, dos seres andróginos. a gravidez consiste no entanto ao retorno a
continuidade do ser, e a
mãe é a figura que pode gozar essa sensibilidade. coisa que vivemos de forma efêmera e perigosa quando insistimos
em encontrar nossa completude no outro, o
ser outro, também interdito por carregar
a cicatriz. depois que Zeus dividiu os seres andróginos, foi Apolo que curou suas
feridas: “ia virando suas cabeças, para que pudessem contemplar eternamente sua
parte amputada. Uma lição de humildade. Apolo também curou suas
feridas, deu forma ao seu tronco e
moldou sua barriga, juntando a pele que sobrava
no centro, para que eles se lembrassem
do que haviam sido um dia.”
me interessa o umbigo, mas por que o do outro? - tantas vezes não olhei o meu
próprio. mas “próprio umbigo” é sinônimo de egoísmo. talvez
exista uma forma de nos olharmos e sermos vistos sem ostentar o abismo nesse
entre, uma forma de equilíbrio que
media a minha fissura e as demais.
me parece que colidir umbigos
é causar ferida a cicatriz, é
confirmar e reafirmar a difícil e impraticável sutura. como quem costura com agulha
e fio para descoser num eterno retorno ao fragmento de tecido.